Filhos das Estações

 

As minhas sensações, psíquicas e corporais dançam consoante o Sol, Vento, Chuva e Trovão. Vou notando a sua simbiose como algas e corais num só. Perco-me em caminhos rugosos da mente, nas vontades e desejos, vícios e bocejos, como o desejo de acender o cigarro e respirar suas fumaças e gestos. Mas nesses rugosos caminhos existe uma interligação com as formas que circulam o movimento ao qual eu me articulo - como constelações que ganham forma consoante a nitidez que vou sendo capaz de ter por dentro. Abrir espaço ao silêncio também é necessário, a nitidez só encontra o seu sinónimo de foco quando se rende ao silêncio.  Tenho tentado oferecer-me dias em que não digo uma palavra e dou palco à presença sensorial, mas é só isso, tenho tentado, amo as palavras e são o meu alimento elementar, mas reconheço o poder delas em fragmentar as sensações.

E por falar em sensações que remetem às estações: O Inverno trás consigo a época do sossego mas a maior parte de nós está em constante ruído, por isso fico/ficamos tão tristes. Sente-se no coletivo o peso de algo, talvez esse algo seja a dificuldade absurda de não partilharmos com nós próprios o sossego. A tristeza expande involuntariamente, mas há que agir, agir em saber ser voluntária de mim mesma ao tomar a noção das trepadeiras que me amarram se não as direcionar. Oferecer a nós a direção, Ser consciente que ela já está em movimento, apenas vai sendo transmutada consoante as escolhas que nos levam por novas rotas.

Sinto que enquanto não formos conscientes das nossas estações e compreendermos o quanto elas são uníssonas e unificadas às do tempo e não notarmos que todos fazemos parte desse mesmo tempo, nunca encontraremos descanso interno. Há que encontrar nas proporções áureas da Natureza e em suas estações, habita a resiliência e o enorme companheirismo que partilhamos, observar e viver ciclos é aquilo do qual todos nós pequeninos organismos temos compartilhado, no fundo, não estamos sozinhos, nunca estivemos.