Fruto de outrora
Sempre me senti uma criatura. Criatura na sua etimologia é fruto da criação de alguém
Sou tudo, não sou nada, nada sei ser a não ser um amontoado de fragmentos de vidas numa vida. Aos poucos, reaprendo/relembro o processo co-criativo de minha criatura por mim.
Relembro o processo de inspirar
Pois outrora não me permitia respirar
Aprendo a escrever o que a mente não expressa
Dou por mim num silêncio para dar espaço à escuta analítica dos contextos envolventes. Defendo-me de todas as possibilidades
Criaram-me insegura
Mas criei-me forte
Crio-me a cada dia
Crio-me com fome
Fome para que a cada dia sinta no íntimo um pouquito mais desta criação minha, tão minha, sozinha em mim
Crio-me consoante as luas e suas marés, em lua nova me reencontro, as quantidades de reencontros e desencontros comigo ainda me assustam.
Oscilo como um baloiço
Ora estou, ora fui, como o rio que flui
Como o movimento necessário para balançar.
O meu amor disse-me: “cria uma constante na inconstante”
Meu amor, esse é o pranto dos meus dias
Sussurro a mim mesma:
Volta aqui, presença - respira e alonga, dança
Prolonga teu aparecimento.
Minha Loba,
tens estado aqui
Falo para ti enquanto falo para mim.
Há uns tempos um amigo disse-me: “cuidado Inês, com os heterónimos que crias, pode ser perigoso”.
Mas, o que ele não sabe é que, eles, não se criam. Surgem. Não deverei então, ter cuidado por deixar tantas de mim divagar, sem as identificar?
Por isso,
Identifico-me
Resgato-me
As vezes que forem necessárias
Em prol do meu equilíbrio
Ora em fogo ardo, ora em água me afogo, ora caminho pelo fogo ora flutuo na água
Ora respiro
Ora me arrepio
Ora no caminho
Ora na terra
Ora no lamaçal.
Sinto neste meu abraço seus abraços
Sei que me escutam e atentam
Recordo-as nas raízes de meus pés
Recordo a intenção da minha raiz
A intenção de fortificar minha libertação
Minha confiança
Minha abundância
Autenticidade - Autêntica com a idade
Filtro o que tentaram fazer de mim
Canalizo o amor e perdão em mim, comigo
Sinto-me
Sinto-as
Crenças limitantes, noto-as num ápice
Com o tempo, deixo de ser o precipício a que ainda me coloco.
Concentro minha energia nesta minha figura
Testemunho minha diversidade
Meus arquétipos
Meus heterónimos
Minha eu
Não posso ter medo daqueles que não me sentem ou podem deixar de sentir
Devo ter medo das vezes que não me vejo
E hoje,
Neste reencontro
Vejo-me
Quão nítida estou
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