Nada Sei o que Ser





Ultimamente, sinto um peso enorme do mundo, de mim mesma, de tudo. Uma incompreensão tremenda dentro de mim oscila e o agravamento de sentir a incompreensão dos outros para com aquilo em que me tornei e estou a Ser, sem sentir a clássica categorizarão das versões que mostrei num passado mas já não se inserem no presente. Não devia sentir isto, mas sei o porquê de sentir - se não sinto compreensão comigo como posso estar em paz pela incompreensão dos outros comigo? Os outros… Muito nós moldamos pelos outros, toda a construção de conceitos sociais altera quem somos de forma tão subtil. Então e nós? Há que ser assertiva nos paradigmas da vida e sua existência.

As oscilações desta incompreensão muitas das vezes levam-me a um oceano bastante turbulento com dificuldades de respirar - de existir. Dói-me existir quando não sei o que existe por dentro de mim, quando num dia tudo é tão simples e claro, e noutro tão denso e escuro. Há que balançar e aceitar, mas se a aceitação por quem somos fosse fácil não havia tanto conflito existencial a nível coletivo.

Desconstruções, construções e reconstruções formam furacões e naufrágios internos, imperceptíveis ao mundo externo, mas por dentro, eu, fico imóvel como uma espetadora de tudo isto, sem saber qual das pontas de fio devo puxar para (tentar) alinhar. Tudo se trata das camadas e camadas do núcleo de quem somos e suas experiências que nos contornaram para aquilo que hoje assumimos Ser. Algumas dessas camadas conseguimos retirar, outras, são tão fortes quanto um muro de pedra. É intenso, exaustivo. Tento olhar para todos os processos que já contornei e antecipar os que se seguem, como se o olhar, observação, pensamento e análise crítica fosse parte do cumprimento da minha linguagem mental comigo própria, da mesma forma que a palavra olá faz parte do cumprimento universal dos seres, o meu cumprimento é este, e umas vezes suporto-o, outras vezes detesto-o. No fundo, sou uma cabeça fragmentada de todos os conceitos que me foram impostos, de todos os mecanismos de defesa/sobrevivência, de todas as coisas que já fui, sou e tenciono Ser. 

O nome deste blog chama-se Pontes da Linguagem, pois as palavras são a única ponte que criamos como forma de ligação ao outro, é através delas que reside a forma de compreensão para a nossa própria expressão, mas a questão é, qual a ponte que tenho comigo? Existe um diálogo, como se dialogasse com a versão de mim - cuidadora e atenta, mas infelizmente, nada é linear e ultimamente sinto-me a desvanecer de mim mesma, uma vez mais, em dissociação. Torno-me insuportável por dentro, e sinto o mundo cada vez mais insuportável. Tenho pressa de existir mas tanta incerteza em quem sou. Mas nos dias que tenho certezas, que poder ilimitado nasce da fonte energética que habita no meu centro.

A linha ténue entre o que somos e o que queremos ser - a realidade que se distorce por essa linha que só nos vai distanciando da verdadeira essência de Ser. 

Tento viver das formas intensas que comprimem o meu Ser. E das mais leves que ajudam-me a Ser - Desde as raízes de uma planta, que simbolicamente tanto ensinam a Ser.

Nada sei o que Ser.

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