O Vento e o Corte



Nunca gostei muito do vento, de alguma forma sempre me assustou pelo seu intenso barulho, no entanto, aprendi a honrar a importância deste elemento presente nas nossas vidas. O vento leva tudo consigo, limpa, trás uma nova melodia sempre que passa, faz as árvores dançar, ensina-nos a amar algo que é invisível aos olhos mas sentido na pele. Quando há uma leve brisa num dia de calor em excesso, adoramos senti-lo, na nossa face, cabelos e corpo, mas quando se torna um vento agreste, trazendo consigo toda a sua força, tendemos a fechar-nos em casa, evitando-o.

Não é a nossa mente um espelho do vento?

Tendemos a sentir em nosso corpo e face, a bonita leveza do ser e sua serenidade, mas, e quando vem a ventania interna com potência? Reagimos de igual forma ao fechar-nos em casa, mas neste caso, fechamo-nos na própria mente, sem dar espaço para canalizar esse pequeno tornado, que muitas das vezes, aparece em nós com o intuito de levar consigo os pensamentos intrusivos, os julgamentos, as ideias pré-concebidas ou se quisermos, os pressupostos. Da mesma maneira que precisamos do vento para trazer leveza e aprender o processo contínuo de canalizar as emoções, da mesma maneira necessitamos do corte.

Quando cortamos as folhas de um bonsai, parece que lhe retiramos parte da sua personificação, quando na verdade, encontra-se em prática o processo de ajudar, sim, na sua expansão. Da mesma maneira quando cortamos o cabelo para que este possa crescer mais saudável, da mesma maneira nós seres humanos ao longo da nossa jornada fomos fazendo vários cortes para a nossa própria expansão - Desde as ideias, aos hábitos, desde as pessoas, aos julgamentos, desde tudo o que nos reprime e tudo o que nos estagna à nossa bonita e única evolução.

Vento, leva contigo os meus julgamentos.

Inês, 2 de Janeiro 2021

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